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António Aires "há abutres a tentarem obter lucros para si, aproveitando a conjuntura"

Apaixonado confesso por futsal, nem em tempos de confinamento o treinador António Aires deixou de cultivar a sua paixão pelo jogo, e pela emoção vivida nos pavilhões.
Dentro de campo, vai colecionando prestações de grande nível, umas atrás das outras. AA UTAD/Real Fut, Chaves Futsal, AJAB Tabuaço e agora o Macedense foram trabalhos de grande categoria de um treinador que está disponível para um novo desafio.
Fora de campo, é o mentor do Desafio Futsal FIFA20, que uniu a comunidade futsalística em torno de um torneio virtual, que face à ausência de espetáculo nos pavilhões, mantém viva a «chama» da paixão pelo jogo, enquanto se aguarda com enorme expectativa pela próxima temporada e pelo retorno à emoção.
 
Complexo Desportivo - De que forma surgiu a ideia de criar o Desafio Futsal FIFA20?
António Aires - A ideia surgiu numa conversa tida via telefone com o Pedro Catita, comentador de futsal, em que naquele dia me informou que a Liga NOS tinha realizado com os jogadores profissionais um evento similar, do qual eu não sabia. Contudo, eu antes já tinha comentado com treinadores e jogadores da Série A da 2ª Divisão Nacional de futsal que seria engraçado encontrar uma maneira de mantermos a emoção da competição, com os nossos jogadores, pois quase todas as equipas têm o seu grupo privado nas redes sociais, onde desenvolveríamos algumas dinâmicas. Então porque não utilizar esses grupos para manter a chama do balneário viva? Continuarmos a respirar o cheiro do pavilhão, mesmo estando remetidos ao isolamento provocado pela pandemia do covid-19? Tanto que numa primeira fase da ideia, esta “brincadeira”, como lhe gosto de chamar, envolvia exclusivamente, os clubes da Série A, em virtude de eu ter sido o treinador do Grupo Desportivo Macedense, e ter criado laços de amizade ao longo de uma época desportiva interrompida abruptamente pelo vírus. Sucede que a “brincadeira” ganhou proporções, para mim, inimagináveis. 
 
Em que consiste esta iniciativa, e qual o formato da prova?
O formato é idêntico à “Champions League”. Os dois primeiros passam para os oitavos de final, os terceiro e quarto classificados passam para uma espécie de Liga Europa, também para os oitavos de final. A iniciativa consiste em “brincar” ao futsal e «assassinar» este isolamento. Continuar com o espírito que brota no balneário. Não imaginam as histórias maravilhosas que tenho vivido nestes dias, eu e todos os intervenientes. Novas amizades, jogadores que nunca tinham sequer falado entre si, nas suas vidas de atletas, alguns que se tinham defrontado na quadra mas nunca tinham trocado sequer uma palavra, a não ser de circunstância. Ao longo da competição, nesta primeira fase de grupos, a dinâmica tem sido simplesmente “fantabulástica”. Respira-se futsal!
 
Como está calendarizada a competição, e quando se prevê que será decidido o título de campeão?
Os jogadores/representantes estão a jogar conforme a sua disponibilidade de tempo, pois alguns têm os seus trabalhos e obrigações pessoais de uma vida que não parou. Entre eles têm acertado os horários. Uns grupos já terminaram esta primeira fase, e outros devem conclui-la brevemente. Depois teremos oitavos, quartos e meias-finais e depois a grande final, em ambas as competições. E já penso em realizar a Supertaça, entre o vencedor da Champions League a da Liga Europa da FIFA FUTSAL20 – Liga da Superação. Quanto à data da previsão da realização das finais, não sei, mas tempo é coisa que agora temos em abundância. Na página da Fifa Futsal 20 - Liga da Superação – afixaremos as datas.
 
Como descreve a recetividade dos futsalistas das equipas à ideia de participarem na competição, e até que ponto a adesão o surpreendeu?
Magnifica. O ADN do futsal vê-se aqui! Ultrapassou as expectativas! Nunca pensei que o resultado fosse o verificado.
Quais as maiores dificuldades de organização e estruturação do Desafio, numa altura de tantas limitações logísticas resultantes das medidas de contenção social impostas?
A maior dificuldade é operacionalização. Pois existiram jogadores que não participaram, como o caso de um jogador da Liga Espanhola, que mostrou interesse em entrar “nesta brincadeira” e só não o fez, porque a consola está noutra habitação, distinta do local onde se encontra atualmente a cumprir o isolamento decretado em Espanha. Apesar disso, está a decorrer! 
 
Até que ponto, uma vez criada esta iniciativa lúdica, não haverá aqui uma repetição frequente de mais edições do Desafio, e até de uma adesão cada vez maior à atividade?
Peguem na ideia e força. Baterem palmas de satisfação. Fico feliz por ser o pioneiro juntamente com os 34 concorrentes. Por exemplo penso que a EA Sports, empresa criadora do FIFA20, podia, atendendo à expansão do futsal, colocar os seus programadores a criar o FUTSAL20, com Ricardinho, Falcão, Mamarella, Robinho, Ferrão, Ortiz e tantos outros.
Qual o impacto que este seu Desafio, e outros que possam surgir, podem ter no «matar as saudades» dos jogos no pavilhão?
Um pavilhão de futsal é único. Essas saudades não se conseguem matar com esta “brincadeira” ou qualquer outra similar. Mantêm a chama a flamejar mas 99,9999% queria era estar no pavilhão a viver futsal. O local é lá. Desculpa-me a comparação, não há futsal “in vitro”.
 
Que impacto antevê, de forma genérica, que a crise sanitária, bem como a crise económica que se lhe seguirá, terão no futsal nacional, e no desenvolvimento da modalidade?
Vamos ter que nos “reinventar”. E nisso, nós os portugueses somos bons. Já diz Camões:” As armas e os barões assinalados que da ocidental praia Lusitana, por mares nunca dantes navegados, passaram ainda além…” Eu acho que vamos passar além, ultrapassar esta tormenta e navegar em águas mais tranquilas e calmas. O meu grande e maior receio é que os pobres fiquem mais pobres e falo sobretudo a nível desportivo, no que respeita à minha região. Pois com a mesma franqueza te digo, já há abutres a tentarem obter lucros para si, aproveitando a conjuntura epidémica. Lamentável. Isso sim preocupa-me!
 
Sendo o António Aires um treinador que conhece muito bem o futsal transmontano, que cenário terão pela frente os clubes dos distritos de Vila Real e Bragança, no sentido de se adaptarem às dificuldades que todos iremos sentir num mundo pós-covid19?
Dificílimas. Numa fase, em que na minha ótica, estávamos, paulatinamente, a atenuar o hiato existente, sofremos esta quebra, esta reviravolta que o covid19 provocou. Dou só, a título de exemplo, os resultados obtidos pelas Associações de Futebol de Bragança e de Vila Real nos torneios Inter-Associações promovidos pela FPF, quer masculinos quer femininos. Os resultados estão aos olhos de todos. E abstenho-me de falar de clubes. Porque também aí, a lança em África estava a começar a penetrar. Basta olhar à composição de clubes da Série A da 2ª Divisão Nacional na época 2019/20.
 
O futsal é hoje a modalidade de pavilhão mais praticada no país, tem atletas e treinadores de classe mundial, e está popularizada em todo o país de forma relativamente equitativa por todo o território. O que terá de fazer a modalidade para, mesmo em situação de crise, lutar para conservar esse estatuto, e até de reforçar a sua força, possivelmente com a tentativa de trazer novos clubes aos seus campeonatos?
Primeiro, alteração e mudança da nossa mentalidade. Mudarmos os conceitos e a forma de estar e atuar. Quando olhamos só para a nosso quintal, perdemos a noção do todo. Não contemplamos o enorme terreno por cultivar e a sua riqueza, pois todos juntos e unidos, ganhamos força e fortaleza. O erro, está em que olhamos muito para o nosso umbigo. Não temos uma política desportiva adaptada à nossa realidade, somos uns péssimos “bairristas”. E enquanto isso não mudar, a nossa velocidade será de caracol. Desta forma, as instituições têm responsabilidades acrescidas no que concerne às suas competências organizativas, onde o item custo pesa e a nível organizativo e de desenvolvimento. Como o poder político tem responsabilidades. Não pode «sacudir a água do capote», lavando as mãos como Pilatos, ao dar “esmolas” e depois aparecer no dia do voto, ou na hora de erguer troféus. Desculpem a franqueza.
 
Trás-os-Montes e Alto Douro é local de origem de excelentes recursos humanos, que se revelaram marcantes em sucessos e conquistas que a modalidade conseguiu a nível internacional, e já teve equipas na Primeira Divisão. O que terá a região de fazer, nomeadamente as duas associações de futebol, para transformarem a qualidade e potencial futsalístico existente, no sentido de esta poder traduzir-se em sucessos futuros?
Nós estávamos no bom caminho. Este obstáculo repentino vai obrigar-nos a reformular o planeamento, a retocar a estratégia, a recrutar recursos financeiros e humanos. Há que tirar da nossa cabeça essa utopia de chegar à primeira divisão, se não for de forma coesa e sustentável. O futsal alterou-se significativamente nos últimos anos. O abismo competitivo entre primeira divisão e restantes divisões é enorme. As infraestruturas continuam a ter um papel fundamental. Gestão equilibrada e com sentido de Estado. Cometemos erros de bradar aos céus. Quando temos, e vou-lhe chamar “pavilhões”, construídos às cinco pancadas, sem ouvir os homens do terreno, só porque o senhor engenheiro é senhor engenheiro e ele é que sabe... De quem é a culpa? Quando temos pavilhões onde se pedes um pouco mais de “intensidade” no treino corres o risco de ter o INEM no fim do treino para levar três ou quatro atletas, pois a parede está 50 cms da linha lateral… e podia continuar a desfiar os exemplos. Os recursos financeiros são de suma importância. O treino de igual modo. Neste capítulo, do treino, a título de exemplo, coloco a ênfase no item "Volume". Da primeira divisão para a segunda, e distritais, é abissalmente gigantesco. Porque tenho uma certeza, na nossa região já se treina com muita qualidade. Temos treinadores excelentes. Falta depois o resto e este resto é muito crucial para a materialização desse sonho que neste momento para mim é utópico. 
 
Ao fim de três anos marcantes, terminou recentemente a sua aventura no Macedense. Que balanço faz de mais um ciclo desportivo no seu percurso?
Top! Orgulhoso do trabalho realizado com jogadores, staff técnico e médico e as duas direções presididas por João Valdrez e João Carlos Pires, sob as ordens de quem trabalhei. Dei-me de corpo e alma e deixo ali um “filho”. Um dia escreverei sobre essas memórias. E tenho tanto para contar. Pois de fora tudo parece maravilhoso mas não foi. Começámos em 2016/17 e terminei funções no decorrer da presente época desportiva. A nível desportivo, se os troféus medem algo, conquistámos todas as provas possíveis da AF de Bragança, campeonato, taça distrital, supertaça distrital, e Taça Transmontana, vencendo o GDC de Salto da AF de Vila Real. Depois, na 2ª Divisão Nacional, com “miúdos”, fizemos um campeonato tranquilo, quando todos vaticinavam a nossa descida, no trabalho feito com jogadores, alguns muito jovens, que nunca tinham jogado competições nacionais, e chegámos aos 1/16 avos da Taça de Portugal caindo diante do campeão nacional e europeu, o Sporting. Mas o maior orgulho reside naquilo que não se vê. Em muitas lágrimas derramadas e muitos sacrifícios pessoais feitos porque acreditei nos meus ideais. Sou teimoso ou perseverante. Depende sempre do ponto de vista de quem te analisa. Lancei bases e linhas mestras para um projeto que tem enraizado o meu “sangue”. Essas bases estão lançadas. Se trilhar o caminho adequado, com as pessoas certas, o GD Macedense será uma referência na região transmontana, quer na formação, quer no futsal sénior feminino e masculino. Precisa de dar os passos certos nos momentos oportunos e de forma correta sem excesso de velocidades, ilusões e protagonismos pessoais. O GD Macedenses está acima das pessoas e ao serviço das pessoas, e não o inverso. Não pode ser uma feira de vaidades, de satisfações pessoais e projeções sociais, mas um projeto de uma comunidade, de uma cidade, de uma região. O GD Macedense terá que ser mais um veículo de captação de riqueza local e projeção das vidas, das gentes daquela terra, que tem a Praia do Azibo e os Caretos de Podence como Património Imaterial da Humanidade decretado pela UNESCO como a sua referência máxima.
 
Se pudesse descrever um desafio aliciante no futsal, que tipo de projeto o faria regressar ao ativo?
O futsal para mim é sempre aliciante. Seja no distrital ou no nacional, seja na formação ou nos seniores, seja a ver na TV ou como falar contigo Gonçalo sobre futsal. É sempre aliciante. Adoro desafios difíceis! E quero agradecer-te publicamente, o excelente trabalho que continuas a realizar em tantas áreas da tua vida. Desde o primeiro convite que um dia me endereçaste quando estavas em Santa Marta de Penaguião, para falar de futsal. Tu sim, és uma referência da nossa região no ser e no estar. És um valoroso combatente. Parabéns! Continua!
 
Entrevistador: Gonçalo Novais
Entrevistado: António Aires
 
 

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Data de publicação: 2020-04-12

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