
ENTREVISTA "existem três sérios candidatos à subida na Zona Norte"
Hugo Oliveira tem 44 anos e o futsal uma das suas paixões, está na segunda época ao comando da equipa do Grupo Cultural e Recreativo Nun´Álvares. A formação fafense ia agora entrar na discussão à subida à Liga Placard e de campeão Nacional da 2ª Divisão, antes da pausa forçada das competições.
11 PERGUNTAS RÁPIDAS
Treinador(a) de referência? José Venâncio Lopes
Local a visitar? Abel Tasman Nova Zelândia
O amor para ti é? Família
A tua maior conquista? Desportiva – Campeão Nacional da Segunda Divisão Nacional 16/17
A maior loucura foi? Prefiro não revelar.
Dois adjetivos que te definem? Persistente Organizado
O que te faz sorrir? A minha filha
O que te desconcentra? A minha esposa
Cidade de Fafe? Minha segunda casa
És feliz? MUITO FELIZ
Complexo é? Não ter família, não ter que comer.

COMPLEXO – Como surgiu o convite, em 2018, para assumires o Nun´Álvares?
Hugo Oliveira – O convite surgiu pela mão de um amigo de longa data, que já tinha trabalhado comigo noutros clubes de nome Bruno Pinheiro, que à data de 2018 era o Diretor Desportivo, do Grupo Cultural e Recreativo Nun’Alvares.
Vencer a série A da II Divisão Nacional era um objetivo da equipa do Nun´Álvares. Quais foram os principais fatores do sucesso?
Vencer a Série A da II Divisão Nacional era um dos objetivos propostos ao grupo de trabalho para a presente época. Como principais fatores de sucesso, posso enumerar, o compromisso, a responsabilidade que todos os atletas, staff diretivo e equipa técnica colocaram em todas as tarefas que estavam à sua responsabilidade. A capacidade de trabalho, demonstrada por todos os intervenientes com o propósito de nos superarmos a cada instante, a cada treino, a cada momento competitivo. A vontade de sermos cada vez melhores naquilo que fazemos, tem sido, também uma das chaves do sucesso alcançado nestas duas últimas épocas, ainda que esta esteja a meio.
Mas, para mim, aquela que tem sido a principal chave do nosso sucesso é jogarmos como Equipa e isso é o que mais forte uma equipa pode ter. Mais importante que ter um ou dois grandes jogadores, é jogar em equipa e isso para mim é muito claro. Jogar em equipa é ter organização.
Um dos fatores decisivos para a boa temporada é a qualidade defensiva da tua equipa. Quais dos teus princípios de jogo no processo defensivo que mais realce dás?
A organização defensiva é um dos momentos do jogo com o qual eu me preocupo muito dentro do nosso modelo de jogo. É um dos momentos de jogo que procuro trabalhar até ao mais ínfimo pormenor dentro daqueles que são os padrões de comportamento que preconizamos e que priorizamos, dentro da nossa organização.
O principal princípio da nossa Organização Defensiva passa por defender o mais longe possível da nossa baliza, de forma bastante agressiva.
Claro está, que tudo isto deverá ser feito de uma forma bastante organizada, o que requer muito trabalho, responsabilidade e compromisso durante todas as tarefas que têm maior enfase na organização defensiva, que são propostas ao grupo de trabalho, para que se consiga desenvolver uma unidade coletiva de pensamento, que oriente as decisões dos jogadores perante um determinado contexto de jogo, ou seja, que permita que os jogadores consigam agir com sentido tático perante o “Aqui” e o “Agora” , que todos os jogadores sejam capazes de pensar e reagir em função da mesma intenção (tática) ao mesmo tempo. Foi esta Organização Tática Coletiva, um dos fatores chave para a boa qualidade defensiva que a equipa apresentou durante esta fase regular.
Ia começar agora a II Fase (subida), mas derivado do Coronavírus a competição ficou suspensa. Como achas que poderá afetar a tua equipa?
Essa é uma questão nuclear e bastante pertinente, que de certeza está a assombrar a cabeça de muitos treinadores, a minha inclusive. Inicialmente, pensávamos que a competição iria parar por um curto período de tempo, face às notícias que iam sendo divulgadas pelos sites da modalidade. Face a isto, seguramos as medidas que nos pareciam ser as mais ajustadas para manter o plantel ativo de forma a que os índices físicos dos atletas não saíssem muito comprometidos. Após a suspensão de todas as competições de futsal pela FPF, no passado dia 13 de março, fomos obrigados a adotar outras estratégias, mas sempre com o mesmo objetivo, procurar manter os nossos atletas ativos.
Para isso procuramos manter o mesmo padrão semanal de treino, onde apenas se alterou o horário de treino, ou seja, continuamos todos a treinar à segunda-feira, terça-feira e quinta-feira através de vídeo conferencia, sob o comando da equipa técnica e com isto procuramos manter as rotinas semanais, manter os índices físicos (ainda que as solicitações musculares sejam muito diferentes daquelas que a nossa modalidade exige), manter o espirito coletivo, o espirito de equipa e acima de tudo mantermos toda a gente focada naquele que é o nosso principal objetivo.
Claro está, que com estas estratégias tentamos minimizar os danos colaterais (dimensão física) de uma paragem prolongada.
A nível da dimensão tática, as preocupações são outras, uma vez, que o único treino possível de fazer com os jogadores passa por análises coletivas de alguns momentos dos nossos jogos (nos dias de treino ou não), que nos é possível fazer através de algumas plataformas digitais, com intuito de não deixar o cérebro desligar por completo dos padrões de comportamento que dão corpo ao nosso modelo de jogo. E é aqui que reside a minha principal preocupação, porque equipas organizadas exigem repetição sistemática dos seus padrões de comportamento.
Qual é a tua posição em relação ao futuro das competições, terminarem precocemente ou retomar assim que possível? Quais as maiores problemáticas?
Pessoalmente, sou da opinião que as competições vão retomar assim que possível e arrisco-me apontar para meados de junho. Mas antes de voltarmos às competições deveríamos ter oportunidade de treinar juntos pelo menos duas semanas. Isso implicaria que meados de maio todas as equipas voltassem aos seus padrões semanais de trabalho. Mas será que todos os clubes conseguem assegurar treinos com total segurança!?
Outra das maiores problemáticas, passará também pela gestão dos recursos materiais, principalmente pavilhões (Futsal amador) uma vez, que quase todas as equipas treinam e jogam em pavilhões municipais que poderão ter já ocupação para essa datas, gestão de recursos financeiros (alugueres de pavilhão, pagamentos a jogadores, ajudas de custas, etc…), gestão do padrão semanal de trabalho, pois poderá haver, eventualmente, a necessidade de recorrer jornadas duplas dentro da mesma semana, por exemplo: Jogo quarta-feira e sábado. Será que os clubes estão preparados? Será que existem recursos suficientes que nos permitam avançar, para tal calendarização?
Já no caso das equipas da Liga Placard (Futsal profissional), o maior problema passará mesmo pela gestão dos recursos financeiros, pois a falta de competição nos pavilhões leva a uma asfixia e consequente “morte lenta” das tesourarias. Certamente, uma das estratégias que os clubes irão adotar para se manterem “vivos” e em condições de competir no caso de reatamento das competições, passará pela redução salarial na ordem dos 50%, 70% dos seus jogadores, ou até mesmo para a suspensão temporária de emprego e salário, como já aconteceu com o Olympique Lyon da Ligue 1.
No caso de se avançar para o término precoce das competições, então terão que ser tomadas decisões e não se manter esta situação por muito mais tempo. Os jogadores assim como as equipas técnicas e diretivas, precisam saber do seu futuro! O que vai acontecer? Há subidas? Há descidas? Começo a preparar a equipa para a próxima época? Renovações, contratações, etc…?
A ver vamos … …
Vamos é acreditar que os planos por parte da FPF existem, mas primeiro temos de ultrapassar esta pandemia que está a assombrar o mundo inteiro, seguindo de forma responsável todas as recomendações das autoridades competentes no combate à propagação da Covid-19
No caso de reatar a competição, quais achas que vão ser as principais dificuldades que as equipas vão sentir, em particular a tua?
Hugo Oliveira – No caso de as competições serem reatadas, nós nunca teremos a problemática do pavilhão, uma vez, que é do clube.
A maior dificuldade será mesmo a gestão do tempo, ajustar o padrão semanal de trabalho, pois perante tal cenário, não sabemos se vamos ter alguma semana ou semanas de preparação até à próxima competição, ou se iremos começar logo a competir. O tipo de calendarização competitiva que irá ser proposta?! Também poderá ser uma das grandes dificuldades que as equipas irão ter que enfrentar na gestão do seu padrão semanal de trabalho.
Mas, a segurança será também um dos maiores problemas que os clubes terão em mãos. Será que os jogadores vão conseguir treinar com total segurança? Os clubes conseguirão garantir essa segurança, dentro de um ou dois meses? E claro está, que aqui não estamos a contabilizar o publico, que será outro dos problemas.
Estas são na minha opinião as maiores dificuldades que as equipas irão sentir, nomeadamente o Nun’Alvares.
Quem achas que serão os principais favoritos a lutar para subir de divisão? Porquê?
Na minha opinião na Zona Norte existem três sérios candidatos à subida à Liga Placard que são: Grupo Cultural e Recreativo Nun´Álvares, Associação Desportiva Cultural e Recreativa das Caxinas e Poça da Barca e Grupo Recreativo e Cultural Dínamo Sanjoanense
Na minha opinião na Zona Sul existem dois candidatos à subida à Liga Placard que são: Sport Club Ferreira do Zêzere e União de Amigos de Olho Marinho

Sentes que tens um plantel capaz de responder ao aumento da competitividade a cada jogo?
Estaria a mentir se dissesse que não! Claro que sinto e afirmo ter um plantel capaz de responder ao aumento de competitividade que esta fase do campeonato exige, pois foi a pensar nela que o plantel foi construído.
Sabíamos que íamos estar entre os melhores da segunda divisão.
No trabalho de organização ofensiva, as caraterísticas de jogadores são fundamentais. Tens soluções dentro do plantel para diferentes variâncias de jogo?
Hugo Oliveira – Acrescentaria que o mesmo se aplica na organização defensiva.
Mas, no que se refere à organização ofensiva, esta época, contrariamente ao que aconteceu a época passada que peguei num plantel que já estava feito e que tinha transitado da época anterior, houve a preocupação de termos no nosso plantel, jogadores que nos permitissem alternar premissas de jogo dentro da mesma organização, seja ela numa estrutura de três ou numa estrutura de quatro.
Quem assistiu a alguns dos jogos do Nun’Alvares da presente época, teve a oportunidade de assistir in loco a diferentes variantes de jogo dentro da mesma estrutura e para que isso seja possível, há que ter no plantel jogadores com caraterísticas que nos permitam avançar para isso. E essa foi, uma das nossas principais prioridades, no planeamento da presente época.
Posso afirmar que esta época o plantel do Nun’Alvares é equilibrado e seria ainda mais equilibrado se as lesões não tivessem afastado da competição pelos menos dois jogadores (Ribeiro e Norinho).
Já treinaste na 1ª Divisão Nacional, sentes que existe muita diferença competitiva para a 2ª divisão? Em que aspetos?
As diferenças competitivas ainda são muitas!!!
As grandes diferenças centram-se, na minha opinião, na qualidade dos executantes e nas grandes diferenças orçamentais que existem entre as equipas das duas ligas. Se tens mais dinheiro tens uma maior possibilidade de contratar os melhores, é por isso que na atual Liga Placard podemos encontrar um leque alargado dos melhores jogadores do mundo nas suas posições, como por exemplo: Alex Merlin, Guitta, Taynan, Robinho, Cardinal, André Coelho, Bruno Coelho, Fernandinho, etc…
O facto de termos das melhores ligas do mundo, onde estão presentes alguns dos melhores jogadores do mundo, faz com que a qualidade e o ritmo/intensidade de jogo sejam muito superiores na Liga Placard comparativamente à segunda divisão.
Outra grande diferença, reside no facto de a grande maioria dos clubes da Liga Placard, serem profissionais ou semiprofissionais, já não existem equipas totalmente amadoras na Liga Placard, o que lhes permite com facilidade um ritmo semanal de 6 a 8 unidades de treino (uma das grandes diferenças entre as duas ligas). Se treinas mais, és mais intenso, és mais agressivo, tens um maior entendimento e conhecimento do jogo, és mais competitivo. Logo és melhor!
É como eu sempre costumo dizer: num jogo entre equipas das duas ligas a equipa da divisão inferior, “vai ficar sempre no quase” porque o pormenor vai fazer a diferença….
É sobre esse pormenor que todos temos que trabalhar desde os escalões de formação, pois é aí que reside a base das equipas séniores.
Como vês o atual modelo competitivo da 2º divisão? O que mudarias?
Hugo Oliveira – O atual modelo da 2º divisão é extremamente competitivo, onde 68 equipas a nível nacional onde se incluí a serie Açores, que competem por dois lugares que dão acesso à principal liga portuguesa de futsal. O que representa um enorme desafio, para todas as equipas sem exceção, ou seja, para aqueles que se assumem como candidatas a uma possível subida, como para as que lutam para a manutenção, pois contrariamente ao número de equipas que podem subir, as equipas passiveis de descer são muitas. Daí afirmar que a competitividade é muita e o desafio para que se alcancem os principais objetivos propostos por cada um destes 68 participante é enorme.
Face ao exposto a única mudança que eu proponha passaria pela existência de mais um lugar de subida à Liga Placard, ou seja, tinham acesso à Liga Placard os dois primeiros classificados de cada uma das zonas e o segundo melhor classificado de cada uma das zonas. Os moldes regulamentares, para o apuramento do melhor segundo classificado, dariam para um interessante debate…
Na tua opinião o que falta para que a maioria dos clubes possam assumir-se como profissionais e assim aumentar a igualdade e qualidade do futsal em Portugal?
Hugo Oliveira – Para que algum dia esse cenário seja exequível, terá que existir por parte da FPF um maior apoio aos clubes, um maior apoio das autarquias locais, as empresas terão que se unir aos clubes como principais patrocinadores tal como acontece na División de Honor da Liga Nacional de Fútbol Sala.
Só desta forma o cenário pode mudar e um dia a nossa principal liga poderá ser inteiramente profissional.
O futsal tem crescido no número de praticantes, como vês o trabalho de formação dos clubes?
O número de praticantes no futsal aumentou exponencialmente é um facto, para isso muito tem contribuído o excelente trabalho que a Federação Portuguesa de Futebol tem feito na divulgação da modalidade, as transmissões televisivas, o facto de sermos os campeões da Europa, o facto de termos o melhor jogador do mundo por seis vezes, a ultimas cinco consecutivas, o facto de termos uma das melhores guarda-redes do mundo no futsal feminino, o facto de termos a terceira melhor jogadora do mundo, o facto da seleção portuguesa de sub-19 de futsal feminina ter conquistado o ouro nos Jogos Olímpicos da Juventude, o facto de termos uma das melhores ligas de futsal do mundo, o facto de termos entre nós muitos dos melhores executantes do mundo nas suas posições específicas, etc… Todas elas contribuíram para o atual crescimento do futsal enquanto modalidade assumindo cada vez mais, um lugar de destaque no panorama desportivo atual em Portugal.
Pegando no último paragrafo da resposta anterior…
“É sobre esse pormenor que todos temos que trabalhar desde os escalões de formação, pois é aí que reside a base das equipas seniores.”
Por ser aí que reside a base das equipas seniores, defendo que deverá ser nos escalões de formação que os melhores treinadores devem estar, pois só com um bom conhecimento/entendimento do jogo podemos ensinar com qualidade, só com um bom conhecimento/entendimento do jogo podemos treinar o pormenor. Quando falo em pormenor, não me estou a referir a nada de extraterrestre, refiro-me a coisas simples que tornam o jogam simples e atrativo, refiro-me a fundamentos defensivos, refiro-me a fundamentos ofensivos, refiro-me à relação com a bola, coisas que devem ser treinadas e exacerbadas na formação, que nos permitam tirar dividendos futuros, que permitam às equipas com menores orçamentos, competir ou estar mais próximas das detentoras de maiores orçamentos que têm entre si os melhores dos melhores.
É com enorme satisfação que em Portugal cada vez mais equipas apostam na formação e como exemplo posso mencionar algumas da zona norte: Associação Desportiva Cultural e Recreativa das Caxinas e Poça da Barca; Associação Desportiva e Cultural de Nogueiró e Tenões; Contacto Futsal Clube; Grupo Cultural e Recreativo Nun´Álvares.
Que palavras gostarias de deixar aos associados e adeptos do Nun´Álvares numa etapa que poderá ser história no clube?
Aos associados e adeptos do Nun’Alvares, gostaria de deixar uma palavra de profundo agradecimento por todo o apoio que nos têm dado. Que nunca deixem de acreditar e que nos continuem a apoiar.
Mas, neste difícil momento de estado de emergência, a mensagem mais importante será mesmo apelar que todos os associados e adeptos do Grupo Cultural e Recreativo Nun´Álvares permaneçam em casa e que sigam à risca todas as recomendações das autoridades competentes no combate à propagação da Covid-19.

Entrevistado: Hugo Oliveira
Entrevistador: Luís Leal
Fotografia: Hugo Oliveira e Nun´Álvares
Data de publicação: 2020-03-24

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